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Qual festa?

 

Foto: Miguel A. Lopes/Lusa



Sucedendo ao Campeonato de Portugal, a Taça de Portugal foi criada em 1938, com a primeira edição a contar com 15 equipas. O Académica OAF levou a melhor sobre o Benfica, numa vitória por 4-3. O primeiro troféu foi levantado dia 6 de junho de 1939 pela Briosa. Um troféu de 58 cm, idêntico ao criado em 1921, com referências as caravelas, e dias de glória do império português. Embora o vencedor leve para casa uma réplica um pouco diferente... Até hoje o troféu segue com a mesma identidade, o original na pose da federação, contem todos os nomes dos vencedores cravados.

 

Foto: DR

O palco do espetáculo começou no Estádio José Manuel Soares, hoje Campo das Salésias, ainda em atividade e recebe maioritariamente os jogos da formação do EF Belém. Passou pelo Lumiar, Stadium de Lisboa, antiga casa do Sporting CP. Só depois de 1948 passou para o Estádio Nacional, Jamor, inaugurado em 1944. A estreia do Jamor é a verde e branco, duplamente. Com um Sporting - Benfica no jogo de inauguração. Os leões levaram a melhor por 3-2, com o primeiro golo da história no estádio a pertencer a Fernando Peyroteo.
Já a primeira final foi também com marca dos leões, a vencerem os Belenenses por 3-1, Peyroteo gostou do estádio, e bisou na partida.


(Estádio do Jamor) Fotos: jamor.ipdj.pt


Ainda que o Jamor hoje seja visto como um recinto inalterável e quase místico para a final da prova rainha, já houve alterações após a sua estreia.
Em 1961 o FC Porto a pedido jogou em casa, ainda assim foi derrotado pelo Leixões. De 1974 a 1977 a final passou a ser disputada no estádio do clube vencedor do ano anterior. Em 1983 O FC Porto voltou a conseguir a final na sua casa, diante do SL Benfica, mas voltou a não ter sorte, e saiu derrotado.
A últimas exceções foram em 2020 e 2021, pelo COVID-19, a final foi no Estádio Cidade de Coimbra.

A mística do Jamor…
Embora seja inegável a sua história, que se entrelaça com eventos desportivos e políticos durante décadas, o Jamor não tem condições de acessibilidade nem de conforto, para não falar da falta de segurança. A reabilitação do estádio é um tema recorrente, já tendo sido feitas algumas pequenas reparações, mas nada significativo.
Em julho de 2023, foi assinado um protocolo entre a autarquia de Oeiras, Governo e várias federações para uma reabilitação do Jamor.
Lançado no dia 22 de janeiro de 2023, um concurso publico, os melhores projetos serão escolhidos até dia 7 de março. O orçamento é de apenas 25 milhões de euros, e ainda com um limitador, o Estádio do Jamor é considerado monumento nacional, significa que não podem ser feitas alterações.
Teremos de aguardar para ver se não é mais um concurso publico como muitos no país.
O novo Estádio de Wembley teve um custo de 798 milhões de libras (933M€). 22 anos mais velho que o Jamor, com mais história, e uma grande guerra.
O Embelezamento que criamos no Jamor, torná-lo intocável, só o estamos a tornar inacessível.



(Estádio do Jamor) Fotos: jamor.ipdj.pt


A mística deixou de existir, ou cada vez é menor. Se antes era um privilégio jogar naquele recinto, conquistado apenas por alguns. Hoje é o privilégio dos sem casa. Num espaço curto de tempo, já passaram por lá, BSAD, Casa Pia, CF Estrela da Amadora, e ainda o Racing Power FC (feminino).
Entre as várias modalidades que utilizam o recinto, o Jamor em 2023 foi o estádio mais utilizado em Portugal.
Um estádio como qualquer cidadão sénior português, demasiado trabalho e sem direito à reforma.


E quanto se ganha... E quanto se perde...
Uma das maravilhas dessa prova é coabitação de gigantes com clubes das distritais do futebol português. Jogadores amadores, pessoas com trabalhos "normais", podem ter a oportunidade de jogar em Alvalade, Dragão ou na Luz. Ou então receber na sua modesta mas calorosa casa, um grande da primeira divisão.
Mas infelizmente em Portugal mesmo clubes de primeira não tem recintos com condições para receber grandes jogos, quando mais descemos pior é o cenário.
E aquilo que parecia ser uma bonita história, passa para jogar num estádio emprestado, a vários quilómetros de casa, onde o clube que cede tem direito a 5% das receitas liquidas do jogo.
As deslocações, fora exceções, são um encargo dos clubes. Imaginemos um clube do CP (Campeonato de Portugal) ter de suportar uma viagem do Minho ao Algarve. Sem condições para uma viagem um dia antes, sem uma estadia.

O vendedor da Taça de Portugal ganha 600 mil euros. 300 mil prémio de vencedor, mais 300 mil de receitas televisivas.
Em termos de comparação, o vencedor da FA Cup (Inglaterra) ganha mais de 2 milhões de euros.  

 

(Estádio do Jamor) Fotos: jamor.ipdj.pt


A distribuição das receitas, segundo o artigo 84.º do regulamento, é de apenas 75% dividido pelos clubes, ou seja, 37,5%. A FPF (Federação Portuguesa de Futebol) leva uma boa fatia de 25%.
Por cortesia, alguns clubes "grandes" tendem a ceder a sua receita, quando jogam com clubes de divisões inferiores. Porém, não existe nada a regulamentar tal ação. O que deixa uma brecha enorme para más interpretações. Como vimos essa época (23/24) o Sporting CP recusou ceder a sua receita ao CD Olivais e Moscavide, por sentir que passava uma imagem pouco credível em relação ao que se passaria em campo. Para tal seria necessária uma regulamentação da FPF, e não um entendimento entre dois presidentes antes de um jogo decisivo.

Há mais de 10 anos que já houve queixas sobre as receitas e as percentagens. A única alteração, foi passar o prémio de vencedor de 500 mil para 600 mil euros, e reduzir em 5% a percentagem da FPF.

Revelado pelo presidente do Lusitânia (clube do CP), Luís Carneiro, o clube teve um gasto de 20 mil euros, para receber o SL Benfica em 2023. Nesse caso falamos de receber um grande, com a cedência de receitas, e um valor de transmissão televisiva, que chega aos 50 mil euros.
Mas a realidade de muitos mal chega para os gastos de um jogo, quanto mais de uma época...

Participar nessa grande prova, e rezar para sair um dos grandes, rogar pela outra metade da receita.
Sem magia, sem ambição, não existe a possibilidade de sonhar, quando as necessidades básicas não foram resolvidas.

Um estádio precário, receitas diminutas, quase 90 anos de história, essa é a festa da prova rainha.





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